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domingo, 30 de março de 2008

EDUCADOR OU PROFESSOR?

A propósito de uma crônica que li há alguns dias num jornal de grande circulação, achei oportuno fazer a reflexão sobre a diferença , que para mim é muito clara, entre EDUCADOR e PROFESSOR.
Até poucos anos atrás era motivo de orgulho dizer-se que era Professor. De repente alguns movimentos começaram a tomar lugar e aos poucos se disseminaram de tal forma que parece que ser professor é qualquer coisa de insignificante. Que devemos nos autodeclarar educadores ou melhor ainda, trabalhadores em Educação.
Por que será que esta mudança de nomenclaturas foi sendo proposta a nós professores com tanta veemência? E como será que tão ingenuamente nos deixamos levar por esta linha de pensamento e fomos parar onde estamos?
Por que trabalhadores em Educação e, não Professor? Será que todo trabalhador em educação tem a mesma responsabilidade social e a mesma necessária capacitação e habilitação que é exigida de um professor? Serão os objetivos e funções desempenhadas equivalentes ou equiparáveis?
E por que dizer que somos todos educadores? Como seria maravilhoso trabalhar com a Educação, se todos fossem educadores, quando, na verdade, há neste mundo, muito mais deseducadores do que o contrário.
Educador é todo aquele que, voluntária, ou involuntariamente , transmite bons exemplos a outro. Não há para tanto, a menor necessidade de um preparo especial, de dedicação aos estudos em função do exercício de tal ato. Podemos nos educar até mesmo observando o comportamento dos seres da natureza, que não são humanos, mas nos dão maravilhosas lições de vida.
Muito distante, porém, desta espontaneidade de ações, está o cargo de Professor.
Para ser Professor, precisamos nos preparar árdua e incessantemente para desempenhar nossa função. Não nos basta intuição e boa vontade. Precisamos de conhecimentos específicos e, de quebra, atualmente, precisamos também, atuar como agentes de saúde, psicólogos, policiais e ainda, conhecer muito bem alguns estatutos, para que não incorramos na "falta gravíssima "de pronunciar algum vocàbulo que possa esbarrar no mal-entendido, que possa sequer dar margem à imaginação de que o professor quis ofender, discriminar ou humilhar. Porque daí, professor, salve-se se puder. Esqueceram que você também tem direitos a serem respeitados e estão a cada segundo querendo lembrá-lo, mais do que o necessário , das suas impossibilidades, das coisas que você (segundo eles) não pode, não deve, não tem o direito de fazer. Enganam-se . Professor é cidadão , e como tal, merece muito mais respeito do que está recebendo.
Acho que está mais do que na hora de hastearmos nossa bandeira e mostrarmos a esta sociedade, pela qual tanto fazemos, que queremos sim ser respeitados e valorizados... como PROFESSORES, isto é, profissionais muito bem qualificados e preparados para o exercício desta mal-remunerada, mas imensamente gratificante profissão.

Veja o que diz Rogério Mendelski em seu artigo no Correio do Povo de 04/05/2008.
Segundo ele, em Cingapura, país de primeiro mundo professor tem 100 horas/ano destinadas ao seu aperfeiçoamento e lá professor não é "trabalhador em educação", como querem aqui.


Quando nada parece dar certo, vou ver o cortador de pedras a martelar numa rocha talvez 100 vezes, sem que uma única rachadura apareça. Mas na centésima primeira martelada a pedra abre-se em duas e eu sei que não foi aquela que conseguiu isso, mas todas as que vieram antes.


(Jacob Riis)

terça-feira, 18 de março de 2008

ATIVIDADE DE PORTUGUÊS

Alunos da oitava série, leiam, conforme combinamos,

a crônica O Nariz, e depois façam o comentário devocês a respeito.

Boa leitura.

O NARIZ

Luís Fernando Veríssim


Era um dentista, respeitadíssimo. Com seus quarenta e poucos anos, uma filha quase na faculdade. Um homem sério, sóbrio, sem opiniões surpreendentes mas uma sólida reputação como profissional e cidadão. Um dia, apareceu em casa com um nariz postiço. Passado o susto, a mulher e a filha sorriram com fingida tolerância. Era um daqueles narizes de borracha com óculos de aros pretos, sombrancelhas e bigodes que fazem a pessoa ficar parecida com o Groucho Marx. Mas o nosso dentista não estava imitando o Groucho Marx. Sentou-se à mesa do almoço – sempre almoçava em casa – com a retidão costumeira, quieto e algo distraído. Mas com um nariz postiço.
- O que é isso? – perguntou a mulher depois da salada, sorrindo menos.
- Isso o quê?
- Esse nariz.
- Ah. Vi numa vitrina, entrei e comprei.
- Logo você, papai…
Depois do almoço, ele foi recostar-se no sofá da sala, como fazia todos os dias. A mulher impacientou-se.
- Tire esse negócio.
- Por quê?
- Brincadeira tem hora.
- Mas isto não é brincadeira.
Sesteou com o nariz de borracha para o alto. Depois de meia hora, levantou-se e dirigiu-se para a porta. A mulher o interpelou.
- Aonde é que você vai?
- Como, aonde é que eu vou? Vou voltar para o consultório.
- Mas com esse nariz?
- Eu não compreendo você – disse ele, olhando-a com censura através dos aros sem lentes. – Se fosse uma gravata nova você não diria nada. Só porque é um nariz…
- Pense nos vizinhos. Pense nos cliente.
Os clientes, realmente, não compreenderam o nariz de borracha. Deram risadas (“Logo o senhor, doutor…”) fizeram perguntas, mas terminaram a consulta intrigados e saíram do consultório com dúvidas.
- Ele enlouqueceu?
- Não sei – respondia a recepcionista, que trabalhava com ele há 15 anos. – Nunca vi ele assim. Naquela noite ele tomou seu chuveiro, como fazia sempre antes de dormir. Depois vestiu o pijama e o nariz postiço e foi se deitar.
- Você vai usar esse nariz na cama? – perguntou a mulher.
- Vou. Aliás, não vou mais tirar esse nariz.
- Mas, por quê?
- Por quê não?
Dormiu logo. A mulher passou metade da noite olhando para o nariz de borracha. De madrugada começou a chorar baixinho. Ele enlouquecera. Era isto. Tudo estava acabado. Uma carreira brilhante, uma reputação, um nome, uma família perfeita, tudo trocado por um nariz postiço.

- Papai…
- Sim, minha filha.
- Podemos conversar?
- Claro que podemos.
- É sobre esse nariz…
- O meu nariz outra vez? Mas vocês só pensam nisso?
- Papai, como é que nós não vamos pensar? De uma hora para outra um homem como você resolve andar de nariz postiço e não quer que ninguém note?
- O nariz é meu e vou continuar a usar.
- Mas, por que, papai? Você não se dá conta de que se transformou no palhaço do prédio? Eu não posso mais encarar os vizinhos, de vergonha. A mamãe não tem mais vida social.
- Não tem porque não quer…
- Como é que ela vai sair na rua com um homem de nariz postiço?
- Mas não sou “um homem”. Sou eu. O marido dela. O seu pai. Continuo o mesmo homem. Um nariz de borracha não faz nenhuma diferença.
- Se não faz nenhuma diferença, então por que usar?
- Se não faz diferença, porque não usar?
- Mas, mas…
- Minha filha…
- Chega! Não quero mais conversar. Você não é mais meu pai!

A mulher e a filha saíram de casa. Ele perdeu todos os clientes. A recepcionista, que trabalhava com ele há 15 anos, pediu demissão. Não sabia o que esperar de um homem que usava nariz postiço. Evitava aproximar-se dele. Mandou o pedido de demissão pelo correio. Os amigos mais chegados, numa última tentativa de salvar sua reputação, o convenceram a consultar um psiquiatra.
- Você vai concordar – disse o psiquiatra, depois de concluir que não havia nada de errado com ele – que seu comportamento é um pouco estranho…
- Estranho é o comportamento dos outros! – disse ele. – Eu continuo o mesmo. Noventa e dois por cento de meu corpo continua o que era antes. Não mudei a maneira de vestir, nem de pensar, nem de me comportar, Continuo sendo um ótimo dentista, um bom marido, bom pai, contribuinte, sócio do Fluminense, tudo como era antes.
- Mas as pessoas repudiam todo o resto por causa deste nariz. Um simples nariz de borracha. Quer dizer que eu não sou eu, eu sou o meu nariz?
- É… – disse o psiquiatra. – Talvez você tenha razão…
O que é que você acha, leitor? Ele tem razão? Seja como for, não se entregou. Continua a usar nariz postiço. Porque agora não é mais uma questão de nariz. Agora é uma questão de princípios.

terça-feira, 11 de março de 2008

CRÔNICA

Para quem gosta de uma boa crônica e, principalmente para os meus alunos da oitava série, turma 82 .
Inspirem-se no texto, utilizem os recursos linguísticos de que falamos em aula e botem pra quebrar"; mostrem todo seu potencial e arrasem na
elaboração da sua crônica.


A Velha Contrabandista
Stanislaw Ponte Preta

Era uma velhinha que sabia andar de lambreta.

Todo dia ela passava pela fronteira montada na lambreta,

com um bruta saco atrás. O pessoal da alfândega — tudo ‘‘malandro velho’’ —

começou a desconfiar da velhinha.
Um dia, quando ela vinha na lambreta, com o saco atrás, um fiscal da alfândega
mandou ela parar. A velhinha parou e então o fiscal perguntou:
— Escuta aqui, vovozinha, a senhora passa por aqui todo o dia, com esse saco ai atrás. Que diabo a senhora leva nesse saco?
A velhinha sorriu com os poucos dentes que lhe restavam e respondeu: — É areia!
Aí quem sorriu foi o fiscal. Achou que não era areia nenhuma e mandou a velhinha saltar da lambreta para examinar o saco. A velhinha saltou, o fiscal esvaziou o saco e dentro só tinha areia. Muito encabulado, ordenou à velhinha que fosse em frente. Ela montou na lambreta e foi embora, com o saco de areia atrás.
Mas o fiscal ficou mais desconfiado ainda. Talvez a velhinha passasse um dia com areia e no outro com a muamba, dentro daquele maldito saco.
No dia seguinte, quando ela passou na lambreta com o saco atrás, o fiscal mandou parar outra vez. Perguntou o que é que levava no saco e ela respondeu que era areia. O fiscal examinou, e era mesmo.
Durante um mês seguido o fiscal interceptou a velhinha e, todas as vezes o que ela levava no saco era realmente areia.
Um belo dia o fiscal se chateou.
— Olha, vóvózinha, eu sou fiscal da alfândega e tenho 40 anos de serviço. Manjo essa coisa de contrabando pra burro. Ninguém me tira da cabeça que a senhora é contrabandista.
— Mas no saco só tem areia — insistiu a velhinha.
E já ia tocar a lambreta quando o fiscal propôs:
— Eu prometo que deixo a senhora passar. Não lhe prendo, não lhe denuncio e não conto nada a ninguém. Mas a senhora vai me dizer: qual é o contrabando que está passando por aqui todos os dias?
— O senhor promete que não conta nada a ninguém? — quis saber a velhinha.
— Juro! — respondeu o fiscal.
— É lambreta